quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A culpa é do vermelhinho que rói unhas

Dirigindo e ouvindo música eis que ouço um spot na rádio dizendo mais ou menos assim:
Ele está chegando, sexta-feira ele vai aterrissar no shopping.

Fala-se de quem? Do senhor vermelhinho de barbas e cabelos brancos que leva um grande saco de presente nas mãos, mas que não os dividi com ninguém. Na minha infância Papai Noel primeiro trabalhava, levava os presentes nas lareiras, nas meinhas, ou deixava nas árvores mesmo, e só depois da tarefa cumprida ele ia se expor no shopping.

Hoje, mesmo antes de todas as crianças terem aberto seus presentes do dia 12 de outubro, ou de se quer perceberem que o “natal vem vindo, vem vindo o natal”, o bom velhinho já os abandonou.

A sociedade do consumo levou ao papais noeis pra dentro dos seus templos de compras, trocas e vendas. E o que isso acarreta? Muitas crianças vão passar o natal sem receberem seus presentes, que triste. E a culpa é toda do papai de vermelho que sai por aí dizendo ‘rou rou rou” danado pra minha poltrona vermelha no shopping mais próximo, pra tirar foto e ser celebridade. Enquanto isso, as crianças continuam esperando a ilustre visita que nunca chega.

Afoguem a ignorância, por favor.

O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano...

As palavras de Chico Buarque em sua música Para Todos, traçam um pouco a diversidade e o tamanho do Brasil. Sou realizada em ter nascido numa nação em que a cultura é inerente aos indivíduos e que há a popular, erudita, pura, misturada, cantada, falada, rimada, esculpida, tocada, pintada, escrita, desenhada, dançada, interpretada, etc. São tantas opções para fazer arte que todos os dias nascem novos artistas no Brasil.

Sotaque, coisa boa de se ouvir, pode-se falar português pernambuquês, candanguês, carioquês, paulistês, mineirês, baianês, oxe, são tantos os ês, que fica difícil citar todos. Uns acham feio, outros bonito, mas a verdade é que é gostoso ser diferente e ver a diferença reinar.

Comida típica, frutas tropicais, bebidas, doces, salgados, comer; de fato, é um verbo gostoso de ser praticar no Brasil.

O brasileiro adora se inserir nas novidades no mundo moderno, nas descobertas que surgem todos os dias, e a mais praticada é a Internet. Por meio dela, conversa-se, expõe-se, casa-se, ama-se, odeia-se, publica-se deleta-se, segui-se, curti-se e descurte-se. É na internet em que o bonito pode ser feio, o alto pode ser baixo, o magro pode ser gordo e o gordo pode ser malhado. É na mesma internet em que pessoas inteligentes têm blogs para falar de atualidade. Elas podem criticar, rimar, postar, reivindicar, orientar, estudar, indicar, etc. A internet libera expressões de todos os cantos do mundo, mas favor, a liberdade de expressão é uma arma que na mão dos ignorantes pode ser letal.

Sou mãe, cidadã e brasileira. Sou nordestina, mais precisamente, pernambucana, e sei bem que meu afogamento traria muita lágrima, o meu afogamento, juntamente com o dos meus conterrâneos seria uma perda nacional, melhor, mundial.

Afoguem sim, a ignorância virtual ou facial de pessoas que só olham pra seus umbigos e não sabem nem porque nasceram.


Ps: Tive que atrasar esse post por conta dos meus compromissos maternos, mas a verdade precisa ser dita sempre.