terça-feira, 10 de maio de 2011

A noite da córnea




Ela chegou discretamente, como quem não quer nada, e jurou que conquistaria aquele garçom. Ele lhe falou três ou quatro palavras: Vai querer o que? E ela, carente do jeito que andava, lhe jurou amor eterno.

- Quero casar e ter filhos, morar de frente ao mar e ter uma casa no campo pra os feriados. Ele lhe olhou nos olhos com tanta força, que ela pensou que ele iria penetrá-la ali mesmo, córnea a dentro.
-Sou casado, tenho filhos, amo meu marido e não dou ousadia a qualquer uma.
Ela não entendeu a mistura de gêneros, mas largou seu cigarro aceso na mesa, a conta a pagar e caminhou até o poste à frente, onde se instalava um cachorro depois de desbeber um pouco de água. Encarou-o com tanta força, que ele achou que ela o penetraria córnea a dentro, e antes que ela se aproximasse um pouco mais, ele latiu ferozmente espantando-a.

Voltando ao bar, ela olhou seu cigarro fumado pelo vento, viu seu tempo passar, seu tempo perdido, e prometeu que não perderia mais tempo com tanta procura inútil. E em meio a tantos "pês", alguns peitos, e logo ela se aproximou do seu verdadeiro destino.

- Loura, o que andas fazendo aqui a essa hora da noite, sozinha e semi-nua?

- Andei lhe procurando a noite toda.

E a Loura, agora Laura,  olhou para a dona da pergunta de forma tão penetrante, que até a sua íris se arrepiou; e a fez mulher... Comprou casa em frente ao mar, campo pra jogar bola, filhos pra amar e um café bem forte toda manhã, pra curar a ressaca de tanto amor noturno e penetrante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário